11 de ago. de 2012

Produção de Mudas de Palma-Forrageira Utilizando Fragmentos de Cladódios

Por Carlos Alberto Tuão Gava e Edson Batista Lopes
Instruções Técnicas da Embrapa Semiárido 
Petrolina, Agosto de 2012
Introdução
A palma (Opuntia ficus-indica L.) é uma das principais alternativas para alimentação de caprinos, ovinos e bovinos no Semiárido brasileiro. Contudo, o ataque da cochonilhado-carmim (Dactylopius opuntiae Cockerel) erradicou grande parte da área plantada, já que a maioria das variedades cultivadas são suscetíveis à praga.
Três novas variedades resistentes à praga foram identificadas: Orelha-de-elefante mexicana, Miúda ou Doce e a variedade Mão-de-moça (clones IPA-Sertânea e PALMEPA-PB1). Contudo, a disponibilidade de material propagativo (cladódios ou raquetes) ainda é baixa, aumentando o preço da palma-semente. Assim, desenvolveu-se uma metodologia utilizando fragmentos (pedaços) de raquetes para a obtenção de
novas mudas.
A produção de mudas pela fragmentação de raquetes é uma alternativa para que o produtor rural possa implantar novas áreas ou sementeiras, utilizando mudas de alta qualidade produzidas a partir de pequenas quantidades de raquetes. Trata-se de uma metodologia simples e de baixo custo, desenvolvida para ser aplicada dentro da propriedade e utilizando um mínimo de mão de obra. Nas experiências  conduzidas em condições de produtor, a eficiência do processo é de 85% e comumente obtêm-se pelo menos dez mudas para cada raquete disponível. Uma variação da técnica permite a colocação dos fragmentos deitados em contato direto com o solo, contudo isso requer o arranque das mudas do local de produção para o replantio em local definitivo, aumentando riscos de danos e reduzindo eficiência de pegamento.
Etapas de Preparação das Mudas
Antes de dar início à aplicação deste método, convém lembrar que a raquete de palma forrageira tem elevado teor de umidade,o que a torna muito sensível a danos por ferimentos, impactos e compressão. Esses acidentes causam rápido apodrecimento da área lesionada e comprometem toda a raquete. Portanto, todo o cuidado deve ser tomado durante as fases de colheita, transporte e armazenamento das raquetes e nas fases seguintes de preparo das mudas.
Se houver necessidade, o transporte deverá ser realizado com as raquetes dispostas em caixas ou com camadas isolantes (sacos de algodão, palhada, capim, etc.) entre elas.
Coleta, Seleção e Cura das Raquetes
As raquetes a serem utilizadas para a multiplicação devem estar completamente desenvolvidas, saudáveis e isentas de infestações com pragas e doenças, entre elas, a cochonilha-de-escamas. Após o corte, as raquetes deverão passar por um período de cura à sombra. Nesse período, o cladódio perderá parte da umidade e ocorrerá a cicatrização das lesões provocadas pela operação de corte no campo.
O período de cura pode durar entre 5 a 10 dias, dependendo do estado inicial de turgidez das raquetes. O ponto ideal é aquele que apresenta sinais de perda de turgidez , ficando mais macia à compressão com os dedos e as lesões dos cortes estejam cicatrizadas.
Tratamento das Raquetes e Corte dos Fragmentos
Próximo ao final do período de cura, as raquetes deverão ser tratadas para a eliminação de insetos e patógenos. O tratamento deve ser realizado por imersão da raquete em solução contendo os defensivos, porém, só deve ser aplicado após o período de cura (Figura 1). Depois desse procedimento, deve-se deixar secar por 24 horas.
Em condições experimentais, os inseticidas metidationa, tiametoxan, metomil, clorpirifós apresentaram alta eficiência no controle de cochonilhas. Contudo, os produtos não apresentam registro para a cultura. O fungicida oxicloreto de cobre pode ser utilizado isoladamente ou em mistura à calda de inseticida para o controle de fungos que causam podridão nos fragmentos.
Entretanto, para o uso de misturas de inseticidas e fungicidas é preciso ficar atento à compatibilidade entre os produtos. Essa informação é apresentada no rótulo dos mesmos.
Ao término do período de cura e tratamento, as raquetes deverão ser fracionadas. O tamanho dos fragmentos (pedaços) pode variar, contudo, para raquetes plenamente desenvolvidas e maduras tem se alcançado excelentes resultados com fragmentos de 3 cm x 5 cm (Figura 2). O ideal é que os fragmentos apresentem pelo menos duas gemas (olhos), em pelo menos um dos lados. É das gemas que se originam as raízes e a nova brotação. O corte deve ser realizado com estilete, faca ou canivete, que deve estar bem afiado. Caso contrário, o corte causará maceramento de tecidos, levando à penetração de patógenos e resultando em apodrecimento dos fragmentos. Após o corte, os fragmentos deverão permanecer em local limpo até a cicatrização.
Essa cicatrização se completa entre 2 e 3 dias e será reconhecida pela formação de uma camada de tecido opaca e seca sobre os cortes. O procedimento deverá ser realizado à sombra, em local seco e sobre superfície seca como bancada de madeira (ou mesa). O contato com umidade ou solo nesta etapa causa apodrecimento dos fragmentos.

Preparo do Substrato e Plantio dos Fragmentos
O substrato a ser utilizado poderá ser produzido com a mistura de solo + esterco, em proporções que podem variar entre 1:2 a 1:3. Podem ser utilizados substratos comerciais ou mesmo solo puro.
Após o período de cicatrização, os fragmentos deverão ser introduzidos em sacos plásticos para muda com volume em torno de 600 mL a 1L de substrato (15 cm x 20 cm).
As cicatrizes são muito sensíveis, e poderá se romper no momento do plantio nos sacos para muda . Por tanto, os fragmentos devem ser introduzidos cuidadosamente nos sacos com substrato.
Recomenda-se que os sacos sejam parcialmente cheios, restando 25% de espaço que será preenchido após a colocação dos fragmentos, evitando-se a sua compressão contra as partículas do substrato. Ou seja, os fragmentos serão apenas colocados sobre o substrato e cobertos com o restante do substrato ou solo utilizado.
Irrigação
A adição de água deverá ser feita somente 2 dias após o plantio, permitindo que qualquer lesão tenha tempo hábil para cicatrização. A partir daí, a rega deverá ser feita uma vez por semana até a emissão e crescimento inicial da primeira brotação.
A partir da emissão da primeira brotação, ou seja, quando apresentar tamanho igual ao do fragmento utilizado, a rega passará a ser executada três vezes por semana, evitando-se o excesso de água.
Aclimatação
A primeira raquete emitida é pequena por causa da pequena quantidade de reservas que o fragmento apresenta. Quando começar a emissão da segunda raquete, as mudas estarão chegando ao período de transplantio e deverão passar por um período de aclimatação, que corresponde à redução do número de regas para apenas uma por semana até o plantio, de forma a aumentar sua resistência e promover a aceleração do crescimento das raízes.
As mudas deverão ser separadas considerando-se o tamanho, de forma a se obter lotes uniformes para aclimatação. Nas semanas que antecedem o plantio no campo, as mudas deverão voltar a receber duas ou três regas para que, quando transferidas ao campo, apresentem o máximo de reserva de água.

Transplantio das Mudas
O plantio das mudas deve ser feito em covas com profundidade que permita a completa imersão do pedaço de raquete utilizado para a produção e parte da primeira raquete definitiva, caso contrário, poderá haver tombamento de plantas após o crescimento.
O transplantio deverá ser realizado, preferencialmente logo após as primeiras chuvas já que as mudas não possuem reservas suficientes para longo período.
Caso seja
utilizada a preparação mecanizada do solo ou captação de água in situ, realizar o plantio no camalhão, evitando-se contato da raquete base com a água empoçada nas chuvas.
A adubação convencional com nitrogênio (ureia) e potássio (cloreto de potássio) deverá ser realizada 30 ou 45 dias após o plantio, conforme recomendação técnica.

PENSAMENTO DO MÊS

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