Por
Bonifácio Benicio de Souza e Iran José da Silva |
Prof.
Dr. Bonifacio Benicio de Souza: Graduação em Zootecnia pela Universidade
Federal da Paraíba (1982), mestrado em Produção Animal pela Universidade
Federal da Paraíba (1994) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de
Lavras (2000), Pós-Doutorado em Ambiência e Zootecnia de Precisão na
Universidade de São Paulo - USP (2008).
Prof. Dr.
Iran José Oliveira da Silva: Doutorado em Engenharia Agrícola. Universidade
Estadual de Campinas, UNICAMP, São Paulo, Brasil. 1988 - 1992 Mestrado em
Engenharia Agrícola. Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, São Paulo,
Brasil. 1983 - 1987 - Graduação em Engenharia Agrícola. Universidade Federal de
Lavras, UFLA, Minas Gerais, Brasil.
Fatores
que afetam a produção de leite no Brasil
A
produção de leite depende de vários fatores, como a raça, instalações,
alimentação, manejo, sanidade, bem estar e conforto térmico. Com as mudanças
climáticas, os países tropicais como o Brasil enfrentarão maiores problemas na
produção animal, em função do estresse calórico acentuado. Pois as raças de
alta produção de leite são mais exigentes com relação a diversos aspectos,
principalmente no que se refere ao bem estar térmico. Assim, é importante que
os produtores atentem para escolha correta da raça para sua região.
A
produção de leite depende de vários fatores |
De acordo com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos - CPTEC, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), há
previsão de temperaturas entre normal a acima dos valores climatológicos
esperados para as regiões Centro-Oeste e parte da Região Sudeste, já a partir
do segundo semestre de 2008, o que observamos nesses últimos meses. Dessa
forma, devemos considerar que para a região nordeste e especialmente o
Semi-árido o impacto seja ainda maior, por se tratar de uma região que já
apresenta temperaturas muito elevadas, acima de 30°C na maior parte do ano,
chegando a 38°C na estação mais quente.
Não
há receita de bolo, porém recomenda-se a todos os produtores providências para
reduzirem os impactos negativos e inevitáveis, preconizados com o aquecimento
global. Recomendamos a criação de raças com elevado grau de adaptação à cada
região; a utilização de novas tecnologias, a construção de instalações adequadas
e o manejo ajustado às exigências térmicas regionais.
A
escolha da raça depende de vários fatores |
A
escolha da raça depende de vários fatores, tais como a finalidade, o mercado, a
localização, o clima, o tipo de produtores e o nível tecnológico adotado. Nos
últimos anos, no Brasil, houve um aumento de 36,07%, e todas as regiões tiveram
um incremento considerável na produção de leite. Todavia, a região Norte teve o
maior aumento (102%), embora ainda permaneça sendo a região com menor produção
leiteira do país. A região Sul ficou em segundo lugar, com um acréscimo de 62%
e continua na segunda posição. A região Sudeste, embora tenha apresentado o
menor aumento em sua produção nesse período (16%), se mantém na liderança
(IBGE, 2006).
Raça de alta aptidão leiteira Holandesa |
As regiões Sul e Sudeste, por apresentarem um clima ameno
e condições favoráveis para produção de forragem de boa qualidade, são
contempladas com maior rebanho de raças de alta aptidão leiteira, como a Raça
Holandesa.Como exemplo, só o Oeste catarinense conta hoje com um
rebanho leiteiro formado por mais de 300 mil vacas Holandesas em produção, com
um volume de leite produzido superior a 85 milhões de litros/mês (Revista
Agropecuária Catarinense, 2007). Considerando que a maior produção de leite no
país é proveniente dessas regiões, onde é predominante a raça Holandesa dentre
outras, deve-se considerar que esses animais são muito sensíveis ao calor, o
que exige dos criadores bastante atenção para oferecer as melhores condições de
conforto térmico, principalmente nas estações de primavera e verão, quando as
temperaturas são elevadas.
Para
as demais regiões do país, onde imperam temperaturas elevadas e outros
problemas de ordem hídrica como as secas, a exploração de animais de alta
produção, de origem de climas frios é praticamente inviabilizada. Sendo assim,
é um desafio manter a produção de leite em níveis satisfatórios, nessas
regiões. Para tanto, é necessário, em primeiro lugar, escolher a raça com maior
grau de adaptação aliada a uma produção de leite que atenda a finalidade de
forma econômica e sustentável; em segundo lugar, providências no sentido de
oferecer um ambiente que atenda às exigências desses animais.
Girolando, resultante de cruzamentos da raça Holandesa com a Gir leiteira |
O
cruzamento de raças especializadas na produção de leite com raças zebuínas com
aptidão leiteira é uma alternativa viável para o país. Como exemplo a raça
Girolando, resultante de cruzamentos da raça Holandesa com a Gir
leiteira, é uma raça que congrega as qualidades genéticas para produção de
leite de ambas as raças, e a capacidade de tolerância ao calor da raça Gir, que
por ser de origem de clima quente já tem em seu genótipo as qualidades
intrínsecas para suportar temperaturas elevadas em comparação as de origem de
climas frios como a Holandesa.
Guzolando (Guzerá x Holandês) |
Para o
Semi-árido, as raças bovinas com aptidão leiteira que apresentam maior grau de
adaptação são as zebuínas: Gir, Guzerá e Sindi. Destacando-se a raça Sindi,
pelas seguintes qualidades: dupla aptidão, elevada eficiência reprodutiva, com
idade média ao primeiro parto de 31,66 meses, peso ao nascer de 24,32 kg,
intervalo entre partos de 13,1 meses e taxa de fertilidade de 89%. Parâmetros
estes estudados no Semi-árido paraibano, junto ao Centro de Saúde e Tecnologia
da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba.
Sinjersey (Sindi x Jersey) |
Guzera leiteiro |
O
conforto térmico é indispensável para se obter maiores lucros na pecuária
leiteira
Independente
da raça criada, os cuidados com o ambiente de criação são imprescindíveis para
que os animais possam expressar o máximo a sua capacidade genética em termos de
produção.
O
conforto térmico é indispensável para se obter maiores lucros na pecuária leiteira |
A
exploração da pecuária de leite prevalece em sistema de produção a pasto,
conforme o levantamento do MilkPoint (2008) que registrou, entre os cem maiores
produtores nacionais de leite, que 14% adotam o sistema de produção a pasto e
47% o sistema semi-confinado, totalizando 61% dos sistemas de produção de leite
utilizando pastejo. Sabe-se ainda que dentre os fatores que afetam
negativamente a produção de vacas de alta produção leiteira, o estresse por
calor é tido como um dos principais agentes.
Os
sistemas Silvipastoris para a produção de leite apresentam diversas vantagens |
O
sombreamento pode ser feito naturalmente através da disponibilidade de árvores
ou de abrigos artificiais. As sombras provenientes das árvores têm maior
eficiência resfriadora que os abrigos artificiais. Todavia, na ausência ou
insuficiência de sombreamento natural, a provisão de sombras artificiais
dependendo do material utilizado melhora significativamente as condições
térmicas do meio.
Os
sistemas Silvipastoris para a produção de leite apresentam diversas vantagens,
tais como: melhoria e conservação do solo, o aumento na produção de forragem de
melhor qualidade, e oferece melhores condições para promover o bem-estar dos
animais em todos os aspectos.
Sindi, uma raça zebuína de dupla aptidão |
Os
animais procuram a sombra nas horas mais quente do dia tanto no inverno como no
verão, contudo é no verão onde essa procura é maior, nesse estudo a permanência
das vacas em pastoreio em ambiente sombreado foi superior em 40% no verão
quando comparado ao inverno.
Considerando
a dimensão e a variedade de climas do Brasil, as mudanças climáticas
preconizadas e a necessidade de aumentar a produção de alimentos para o país e
o mundo, é importante para essa cadeia produtiva, a escolha certa da raça para
a adequação de instalações e manejo que favoreçam melhores condições de
conforto e bem estar aos animais, visando uma produção de leite de forma
econômica e sustentável.
Produtores precisam oferecer as
melhores condições de ambiente e manejo possíveis, |